sábado, 18 de setembro de 2010

Histórias demais


Problemas, poemas escritos em iídiche e não em hebraico. Para onde ruma o poeta com seu caderno? O homem quer ser autor. A mulher, escritora, e enquanto isso outros homens e mulheres digitam algo parecido com frases, mas eles não têm certeza, mal pontuam. Então alguém diz se não falar eu morro, se não ler desfaleço. Recomeça-se.

Os quatrocentos e noventa títulos que no Chile ninguém publicou. Um deles refazia a Odisséia. Era anacrônico. Que idiota querer ser Homero, rosna o editor, que só conhece as rapsódias I e IX. Inveja Ulisses, o astucioso, mas não há tempo suficiente para conhecer quem se demorou por vinte anos. Histórias demais, ele pensa, para depois voltar os olhos em direção ao filho. Acredita que somos como o bebê à sua frente, os dentes tão pequenos. Observa-o, belo e cruel, arremessando um carrinho amarelo na visita de um metro e oitenta, que paralisa.

Pequeno e grande são mais substantivos do que imagina a mãe. Nem vê o que acaba de acontecer, a violência. Melhor usar sapatilha ou escarpin no batizado?, ela pergunta. O pai do bebê não responde, está mais preocupado em perscrutar a visita, que por segundos, ele tem certeza, odiou um futuro ex-pagão.

O padre, o que lê. Corajoso, cita Moisés e lembra aos presentes como e por que Deus pediu a Eva e Adão que se retirassem do Paraíso. O pecado é sempre original, conclui o sacerdote, mas o pai, de pé, no altar, se distrai. Quer saber se na pilha de originais algo vale a pena.

Não conseguirá ler tudo. São tantos, e ele sozinho. E ainda alguns na antiga língua que não pôde aprender - aquela mistura genial falada por seu avô polonês. Precisa contentar-se com as neolatinas e um hebraico tosco assimilado ao longo de seis meses em Tel Aviv. Se Ulisses vagou por tanto tempo, os gregos de fato venceram a guerra?, pergunta-se.

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